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segunda-feira, 14 de junho de 2010


Provavelmente o peixe que come não vem do mar...


Para alimentar um quilo de salmão em regime de aquacultura são necessários cinco quilos de peixe. Em pequena escala, o número pode não ser assustador. Mas a pressão aumenta se considerarmos a previsão dos investigadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, de que, até ao fim do ano, a aquacultura assegurará metade do consumo de peixe a nível mundial. "Para maximizar o crescimento e melhorar o sabor dos produtos, as produções de aquacultura utilizam grandes quantidades de carne e óleo de peixes de espécies selvagens com baixo valor de mercado, incluindo a sardinha", explica Rosamond L. Naylor, líder do grupo de investigação da Universidade de Stanford, em comunicado.
No estudo publicado na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)", os cientistas mostram--se alarmados com as previsões. No início deste ano, 44% do consumo mundial era já assegurado pela produção de peixe em viveiros, mas a tendência aponta para um aumento que alcançará os 50% antes de 2010. "A expansão da aquacultura responde a um grande crescimento da procura", explica Naylor.
A situação é preocupante, dizem os investigadores, tendo em conta o aumento das necessidades dos viveiros no que diz respeito a recursos para assegurarem a produção. Segundo os cientistas, os números constituem uma forte ameaça à vida marinha, pela enorme exigência de captura de espécies que sirvam de alimento à produção. Em 2006, a produção total em viveiros superou os 50 milhões de toneladas, o que implica a captura de 20 milhões de toneladas de espécies selvagens para alimentar as nascidas e produzidas em aquacultura. A equipa de Stanford diz que há uma necessidade urgente de tornar a produção mais sustentável, mas rejeita o cenário de uma "missão impossível".
A equipa de Rosamond L. Naylor estudou de perto a produção de salmão, uma das espécies mais procuradas por se tratar de um peixe rico em ómega 3, elemento considerado essencial numa alimentação saudável. Os investigadores concluíram que uma redução de 4% na gordura animal utilizada para produção do salmão, por exemplo, baixa 22% a quantidade de matéria-prima necessária. Esta é uma das medidas propostas pelos investigadores em face da pressão sobre os recursos piscícolas utilizados nas dietas dos viveiros, que aumentou em alguns casos mais de 80%, sobretudo na procura de gordura animal.
Em Portugal, apesar de existirem empresas de aquacultura, a maioria das produções são pequenas. Nos consumidores também existe algum preconceito. "Penso que é por desconhecimento", reconhece Pedro Marques, biólogo marinho ligado ao sector, ao i. "As pessoas continuam a falar de 'peixes de aviário'. Mas um peixe de aquacultura demora dois anos até estar no mercado. Um frango precisa apenas de um mês. A aquacultura não é uma alternativa, é uma evolução", sublinha, e acrescenta vantagens. "Tem um sistema de produção mais controlado, que permite obter as mesmas fontes proteicas de uma forma relativamente simples", explica o biólogo.
Além da segurança, tem a vantagem de poder proteger os habitats selvagens dos efeitos da poluição. Nos Estados Unidos, uma análise recente concluiu que o peixe apanhado em 291 leitos de rios nacionais tem vestígios de mercúrio acima dos valores recomendados. Estes sinais do metal, provocados em 40% pela poluição industrial, podem ser tóxicos para o organismo. Nos oceanos, prevê-se que os níveis de mercúrio aumentem 50% até 2050.

Um comentário:

  1. Cada vez mais, os peixes que se vendem nas grandes superfícies são de aquacultura e não de mar.

    A grande diferença prende-se com a qualidade do peixe, que apesar de não ser grande, existe.

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